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domingo, 29 de abril de 2012

LENDA E HISTÓRIA DO TABACO



           LENDA E HISTÓRIA DO TABACO
Por Nicéas Romeo Zanchett  
                       Conta a lenda que Maomé ia passando com sua caravana por uma longa estrada, quando foi surpreendido por uma serpente, que lhe disse:  - "Maomé, tenho frio, e morrerei se não conseguir me aquecer." 
                 Ouvindo o profeta tais palavras, desceu e apanhou a serpente, colocando-a dentro de suas vestes, bem perto do peito. Quando a cobra se aqueceu, disse ao santo:  - "Maomé, estou quente e quero picar-te." 
                 Admirado o santo retorquiu-lhe:  - "ingrata! Tinhas frio e eu te aqueci junto ao meu peito e agora, que te sentes bem, queres picar-me?"
                Mas a cobra, sem dizer uma palavra, picou-o no braço, saltando logo a seguir.                               Maomé, então, sentindo-se picado, sugou o ponto em que a serpente lhe inoculara o veneno e, logo após, deixou cair na terra o veneno com sua saliva. Momentos depois, naquele lugar, nascia um pé de Tabaco.  
                Realmente, o tabaco possui o veneno da serpente e a saliva do santo. Este vício social já domina o ser humano a muitos séculos. Teve seu auge de sucesso nos anos 50, quando o próprio governo incentivava seu consumo para angariar impostos.  
                 O Tabaco, erroneamente chamado de fumo -(fumo é o combustível da fumaça), é o nome de uma planta da família das Solanáceas, e cujas  folhas, secas, os homens empregam de maneiras diversas, sendo a mais comum aspirar o Fumo ou a fumaça. 
                A fumaça do fumo é uma mistura de gases, vapor de água e partículas mais ou menos tênues, que se desprendem durante a combustão de grande número de substâncias. É um grande sedutor que, pelo sabor ou pelo aroma, ora como distração ora como vício, tem causado enorme mal a saúde da humanidade. 
               Irmão mais benevolente do ópio, não nos deixa de arrastar aos grandes sofrimentos que todo o vício impõe, obrigando-nos com sua aquisição diária a prejudicar o bolso e a saúde que muitas vezes se abala pelo abuso. E ainda o usamos quando, já sensível nosso organismo, por uma causa qualquer, teimamos, procurando adaptá-lo à nossa vontade, sem nos incomodarmos com sua ação. É o traidor que nos agrada pela sua traição, é o Santo Demônio, que nos deleita e ilude, na falsa suposição de uma ventura, mas que lentamente nos vai intoxicando com seu veneno disfarçado no fumo que se evola, e com êle nosso pensamento.
               Antes da descoberta da América, o tabaco não era conhecido na Europa. Com a chegada dos portugueses  ao Brasil o uso do tabaco já era conhecido dos índios, o que despertou, mais tarde, a atenção do pregador Andre de Thevenet, membro da expedição de Villegaignon, que nos legou uma minuciosa descrição sobre uso que faziam os selvagens da região.  Quando Colombo desembarcou em São salvador, alguns indígenas puseram-lhe aos pés longas folhas de cor escura que emanavam forte aroma. 
                A forma de uso do tabaco pelos índios brasileiros causou forte impressão aos primeiros europeus aqui chegados que logo enviaram mudas da planta para serem cultivadas em Lisboa. Existem documentos que comprovam a sua cultura com sementes levadas daqui e cultivadas no jardim de Jean Nicot, embaixador francês em Portugal, em 1559.  Tanto que o nome nicotina - palavra utilizada para designar um gênero botâncico que compreende grande variedade - foi dada pelo grande naturalista Linneu inspirada no sobrenome do embaixador. 
                O tabaco, entretanto, entrou oficialmente no mundo civilizado não como objeto de prazer, mas sim como medicamento, tanto é verdade que se chamou, a princípio, de "erva do embaixador" e "clysterium nasi". Era usado para casos de torcicolo, pedra nos rins, fastio, doenças de pele, asma, bronquite, malária entre outras enfermidades. Sua fama de medicamento durou longo tempo e, ainda em 1665, na inglaterra, quando ali grassava a terrível epidemia de peste bubônica, os estudantes eram obrigados, antes de entrar na aula, a fumar tabaco como desinfetante. Quem introduziu o abaco na inglaterra foi o navegador Francis Draque e, depois dele, Walter Releigh conseguiu torná-lo conhecido na côrte.
               O primeiro europeu a fumar a nova planta foi o navegador espanhol Rodrigo Jerez. De volta à Europa, ao fumar em público, foi preso por três anos.  O hábito era considerado uma selvageria inaceitável. Além disso, os europeus perceberam que a planta capturava a vontade humana. O próprio Cabral, ao notar a avidez dos marinheiros pelo seu consumo, dissera: "Não está em seu poder  evitar o hábito".  Os europeus não sabiam o que era vício e não entendiam o simbologismo indígena do tabaco. O nome tabaco vem de dattukupa, que significa "nos estamos fumando" em dialeto indígena. Os europeus acharam que este era o nome da planta.
                Na Holanda, em 1570, fumou-se, pela primeira vez na Europa, em tubos de folha de palmeira.  No reinado de Luiz XIV, na França, havia severas penas a quem fosse apanhado fumando. Na Abissínia, a igreja copa publicou um édito, advertindo que os fumantes teriam as mãos cortadas. 
                 Conta-se que o uso de tabaco em forma de cigarro ocorreu, por acaso, durante a guerra turco-egípcia em 1832, precisamente durante o cerco de São João de Acre. Naquele tempo se usava carregar canhões com pólvora envolta em papel manteiga. Foi então que um cabo teve a idéia de enrolar tabaco naquele papel para aspirá-lo. O comandante Ibraim Paxá do Egito soube do ocorrido, achou a ideia original e prometeu fornecer papel e tabaco aos soldados que lhe abrissem rapidamente uma brecha nas muralhas da cidade sitiada. Dias depois, a brecha estava aberta e o comandante cumpriu a promessa.O tabaco foi então, pela primeira vez, utilizado como prêmio.
                Ainda hoje, no Brasil, se usa pedaço de fumo em corda na cavidade de dente careado para aliviar as dores.
                Durante a exploração da nossa antiga Guanabara, os franceses de Villegaignon viram, no interior do país, indígenas que tinham na boca rolos  de folhas secas acesas, aspirando-lhe avidamente a fumaça.
                Fumar é inalar fumaça, algo repulsivo para outros animais, que nós humanos adquirimos como hábito social. O mau hábito tornou-se uma atitude inerente ao ser humano. Tão comum e familiar que ninguém nota como esse gesto é peculiar e algumas cenas cotidianas pareciam inverossímeis sem uma boas tragadas. É comum distribuir charutos para comemorar um nascimento, por exemplo.
              A imagem favorável do tabaco é mais antiga do que se imagina. Começou a cerca de 8 mil anos, no Peru, com o primeiro cultivo. Quando os espanhóis chegaram, a planta já se espalhara pelo continente. 
              A principal razão para o consumo era mística e religiosa: o tabaco permitia um "contato com espíritos". Seu efeito levemente analgésico e anti-séptico era indicado para dores de dente ou feridas. O doente recebia contínuas baforadas que o mantinha em estado de calma.                A fumaça também era usada para  eventos sociais como declaração de guerra e comemoração de paz. Entre os índios norte-americanos, antes das batalhas, fumava-se o cachimbo da guerra e quando ela terainava era a hora de tragar o cachimbo da paz. Mas também usava-se fumar por prazer, pela agradável sensação de alerta e de energia que o tabaco tabaco dá ao corpo. 
             Em apenas 7 segundos, depois de uma tragada, a nicotina chega ao cérebro.  A substância ativa o sistema cerebral que proporciona bem estar e prazer. Agindo no cérebro, ela alivia a ansiedade e deixa a pessoa alerta. A dose de nicotina fornecida por um único cigarro dura meia hora no sangue. Quando a taxa começa a baixar, o fumante sente vontade de acender outro cigarro. Ao acordar o nível de nicotina  no sangue do fumante está baixo. Ele se sente irritado e cansado. Por isso o primeiro cigarro do dia costuma ser o mais prazeroso.
               O tabaco foi introduzido na Europa em meados do século XVI. Hoje é cultivado em todo o globo, mas principalmente nas Américas, nas Antilhas, na Índia Oriental e na Ásia Menor.  
               Comercialmente falando, chamamos de tabaco às folhas convenientemente preparadas de alguma espécie de planta do gênero Nicotina, das Solanáceas, originárias da America do Sul. 
              A composição química das folhas de tabaco varia muito segundo a planta de que deriva, da procedência, dos métodos de cultura e dos cuidados dispensados em seguida à sua colheita e depois da mesma. Em todas as folhas encontramos celulose, substâncias albuminoides, amido, assucar, substâncias gordurosas, nicotina e pequeníssima quantidade de outros alcaloides como nicoteína, nicotimina, nicotelina, além de amoníacos, ácidos orgânicos e sais - citrato, oxalato e potássio - nitratos, resinas, cera e óleos etéreos. A substância indicada com o nome de nicotianina ou cânfora de tabaco é uma mistura dos compostos de nicotina com vários ácidos orgânicos.
               De todos os componentes do tabaco, é a nicotina o mais característico, encontrando-se nos estados de sais orgânicos e principalmente devido à sua ação nociva sobre o sistema nervoso e o coração. A quantidade de nicotina contida nas folhas de tabaco, tal como o encontramos no comércio, varia segundo os tipos, podendo oscilar  de 0,5 a 10% e, mais comumente, de 1 a 8%.                É preciso considerar que  uma parte notável da nicotina é eliminada nos diversos  nos processos de preparação, restando, entretanto, considerável quantidade para as formas empregadas para consumo como vício. 
               Chegando na Europa, em menos de 50 anos o tabaco conquistou o resto do mundo. Em 1542 já havia samurais fumando suas folhas. As tribos africanas costeiras adoraram a planta e a levaram às aldeias interioranas séculos antes de os primeiros brancos chegarem lá.  Nem o islamismo impediu sua circulação e a planta foi admitida nos países árabes, onde o álcool era proibido. 
              As propriedades do tabaco contrastava com as de seus descobridores.  Na América, a vida dos pioneiros ingleses instalados nos Estados Unidos ia mal. Graças ao colonizador John Rolfe sua sorte mudou para melhor. Ele trouxe mudas de tabaco, que começou a cultivar na recém-instalada colônia da Virgínia. No mesmo ano, casou-se com a princesa índia Pocahontas.              Com a ajuda  da tribo dela e a venda da erva, a colônia não só tornou-se sustentável, mas progrediu. A colheita de 1618 foi de 9 toneladas. No final do século subira para 17 toneladas e continuou crescendo. O tabaco tornou-se o principal produto de exportação e razão de ser de toda a comunidade, a ponto de virar moeda de troca. Com a planta podia-se comprar de tudo, de simples refeições a esposas.  Não por acaso, a primeira lei da assembléia dos colonos tratava da erva: determinava um preço mínimo que deveria ser observado pelos vendedores.                  Muitas figuras históricas americanas envolveram-se com a planta.  A família de George Washington, o primeiro presidente, tinha no comércio da planta o seu grande negócio.  Thomas Jefferson, autor da declaração de independência dos Estados Unidos, era um grande fazendeiro de tabaco. 
              Na mesma época, na Europa, a planta invadia o cotidiano das pessoas.  A primeira forma de uso a popularizar-se foi o rapé, armazenado em caixinhas muito pessoais onde os homens o transportavam para seu consumo.  Homens abastados tinham suas caixinhas, muitas vezes em ouro ou prata, que distinguiam sua classe social.  Na Inglaterra, a moda envolvia o cachimbo, considerado tão sedutor que, após o casamento, muitas mulheres exigiam que seu parceiro o deixasse de usá-lo em público. 
               Na Espanha, a Tabacalera, indústria estatal que chegou a possuir o maior prédio do mundo, contratava ciganas para fabricar charutos. No calor mediterrâneo, elas trabalhavam em roupas diminutas. Aquilo virava a cabeça dos escritores, entre eles o francês Prosper Mérimée, autor de Carmem, que mais tarde seria imortalizada na ópera homônima. Carmem fumava papelotes, que se popularizaram na França, onde foram rebatizados  de cigarrettes. Cigarrettes é também a palavra usada em inglês. 
             A associação do tabaco com o sexo foi uma invenção européia. O cinema deu o grande impulso para o aumento do consumo. Ele o associou definitivamente ao sexo. Naquela época não era permitido exibir beijos na tela e os insinuantes  gestos femininos ao fumar substituíram as cenas picantes. Toda a estrela tinha pelo menos uma foto no portfólio segurando um cigarro. Aos poucos, a associação cinema-cigarro profissionalizou-se. Entre 1978 e 1988, 188 atores e diretores receberam cachê para incluir baforadas nos filmes. No final de 1988, o governo americano proibiu a prática, mas a exposição do cigarro na tela continuou. 
            Anualmente  morrem mais de 3,5 milhões de pessoas  vítimas do fumo. A oposição ao tabaco continua crescendo. As pessoas, mesmo fumantes, já tem consciência do grande mal que ele faz à saúde e à vida de um modo geral. Fumar é um habito repulsivo para os olhos, detestável para o olfato, devastador para os pulmões, coração e cérebro. 
             Com o uso contínuo de tabaco, cresce a probabilidade de morte por câncer de pele - é visível o ressecamento e as rugas no fumante-; aumenta a chance de ficar careca; causa excesso de tártaro nos dentes  e aumenta o risco de ficar banguela; causa efisema e multiplica a chance de ter câncer de pulmão; os ossos ficam enfraquecidos, quebram facilmente e demoram mais para calcificar; o cigarro é um dos principais fatores de risco de doenças cardiovasculares; ele causa pelo menos 12 tipos diferentes de câncer.   
              Os governos que nada fazem para impedir o consumo, na verdade, estão vendendo a saúde de seu povo para angariar polpudos impostos. 
Nicéas Romeo Zanchett
http://amoresexo-arte.blogspot.com/